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Sobre Cachoeira: A cidade mais bela de Minas?

Você acha Cachoeira do Campo bonita? Não, não responda agora. Você pode ser novo e não se lembrar de outra Cachoeira, uma que existiu até bem poucos anos atrás. Pergunte aos mais velhos, eles lhe falarão de outra Cachoeira, a Cachoeira dos pomares, dos jardins, das ruas bem cuidadas, das belas construções. Se não puder conversar com os mais velhos, se seu tempo não permite, permita-se consultar antigas fotografias e os velhos livros, que podem ser lidos à noite. E no silêncio do seu quarto vá a um outro tempo, quando Cachoeira era a cidade mais bela de Minas!
Aqui, então, talvez você pense:
_ “Lorota de historiador…”
Poderia ser lorota se o historiador não tivesse visto a outra Cachoeira. Mas houve um historiador que estava lá. No final do século XIX o ilustre escritor, historiador e político mineiro Diogo de Vasconcelos começou a escrever o clássico “História de Minas Gerais”, até hoje marco e referência no estudo da história mineira. Um dos assuntos que permeia sua obra é a Guerra dos Emboabas, sobre a qual discorre longamente. Um dos capítulos é dedicado à Batalha da Cachoeira, curioso estudo do embate dentro do Arraial. E para realizar seu estudo, é claro, vem para cá Diogo de Vasconcelos, analisar o território e trocar informações com os intelectuais que moravam aqui, que, à época, não eram poucos. Sua primeira impressão de Cachoeira parece que o marcou profundamente. Quando lemos sua descrição romanesca é quase possível imaginá-lo chegando no seu cavalo, lá pelo alto do Tombadouro, à tardinha. À sua frente o espetáculo único do pôr-do-sol em Cachoeira, a vastidão quase intocada dos campos de Minas e, ao fundo, a cidade que desapareceu. Assim escreve Diogo:
“Assentado o arraial da Cachoeira numa colina, como nunca mais bela se descobriu, domina em cheio os arredores. As serras da cordilheira, formando um anfiteatro vastíssimo, deixaram entre campinas e vales, bosques e vergéis, o serrote sobre o qual o povoado se inclina a sol-posto, de modo que não haja mais aprazível habitação nas Minas. Ao norte fica-lhe o Tijuco, ao sul o Ouro Preto, a leste São Bartolomeu e a oeste o Leite.”

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Relato único? Não, há outros, muitos outros. Relatos de historiadores, escritores, viajantes, memorialistas, jornalistas. Todos celebram uma Cachoeira que está presa na cabeça dos mais velhos e nas velhas fotografias. Mas talvez alguém argumente:
_ “Ora, era preciso destruir para trazer o progresso, senão pararíamos no tempo!”
Mas isso não é verdade. Há vários exemplos de coexistência pacífica entre progresso, patrimônio cultural e meio ambiente. Poderíamos ter um centro histórico conservado hoje. Mas o que vemos? Desleixo, construções sem o menor critério estético, ruas sujas, jardins destruídos, pomares em extinção e um rio morrendo. Tudo isso debaixo dos nossos narizes! Sorte dos mais velhos que conheceram a Cachoeira de Diogo! A Cachoeira “como nunca mais bela se descobriu.”

Fonte: Extraído do Informativo Cultural de Cachoeira do Campo e Região “Região Cultural” ano 1 – Edição 3 – Novembro de 2002.
Fotos: Praça da Matriz,1907 (Óleo de Milton Passos)/Praça da Matriz-Acervo:Rodrigo Gomes

APOIO CULTURAL:

                        Guia Cachoeira do Campo, Ano 10, Dez anos dessas histórias e estórias que nos encantam!

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