O último pé de jabuticaba
(ou parágrafo para o ano de 2020)
O maior símbolo de Cachoeira, suas jabuticabeiras, está desaparecendo lentamente. Todos os dias derrubamos uma para fazer valer nossa autoridade. Mas, que autoridade temos de destruir alguém que existia antes da gente nascer, antes mesmo de nossos avós? Nossas árvores seculares estão desaparecendo juntamente com os quintais que tornaram Cachoeira famosa. Não derrubem nossas jabuticabeiras, elas são um patrimônio cultural de todos nós! Se pudessem falar, lhe pediriam socorro. Agora, se quiser derrubá-las para aumentar sua varanda ou sua área de lazer não leia o próximo parágrafo. Recorte-o e guarde-o. Leia-o somente no ano 2020.
Era uma vez o último pé-de-jabuticaba. Era velho, muito velho mesmo. Nasceu nos fundos dos quintais de Cachoeira há muito tempo. Trepou em suas galhas muita gente importante: um tal de Joaquim José que todos chamavam de Tiradentes, um menino chamado Afonso de Lemos que depois se tornou um grande padre, e, até mesmo, um certo Juscelino que todos chamavam de JK. Mas, agora, a árvore imponente tinha se tornado um estorvo. Não a queriam mais, decidiram derrubá-la. Seus irmãos “jaboticabósios” já tinham virado lenha antes dele. E agora era sua vez. Iam derrubá-lo por que não gostavam dele, era um pé mau criado. Emporcalhava a varanda com seus frutos e folhas a virar barro melequento. E ainda tinha essa tal da varanda que ia ser aumentada e, por capricho ou esquecimento, o projeto previa o seu fim. No seu lugar se erguerá, imponente e no melhor mau gosto, a varanda! E ele? Ah, ele seria esquecido. Meus filhos nunca subirão nas suas galhas, não se lambuzarão com seus frutos. Meus filhos não conhecerão os pés-de-jabuticaba da minha infância, por que ele era o último pé-de-jabuticaba de Cachoeira.
(Alex Bohrer/Artigo em Região Cultural/2004)
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